RENASCIDOS PARA VIVER: A ÉTICA DO REINO EM ROMANOS 6:4
Resumo
Este artigo propõe uma reflexão teológica e prática sobre Romanos 6:4, destacando o chamado à transformação espiritual e à vivência da ética cristã. A partir da metáfora do batismo como morte e ressurreição, o texto explora como essa “novidade de vida” se manifesta em atitudes concretas que refletem os valores do Reino de Deus. A ética cristã é apresentada como um caminho diário de coerência entre fé e prática, iluminando o mundo com integridade e propósito.
Introdução
“De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6:4, ACF). A epístola aos Romanos nos convida a uma transformação radical: morrer para o pecado e viver em novidade de vida. Essa não é apenas uma mudança de crença, mas uma revolução interior que se manifesta em atitudes concretas — a ética do Reino.
A Morte do Velho Eu e o Chamado à Santidade
Ao escrever aos Romanos, o apóstolo Paulo evoca a imagem do batismo como símbolo de morte, sepultamento e ressurreição. Ainda que o método do batismo não seja o foco, seu significado é profundo: o “velho eu” — com seus desejos egoístas e práticas pecaminosas — é sepultado com Cristo. Parafraseando Stott (2001), E, assim como Ele ressuscitou pela glória do Pai, somos chamados a viver uma nova vida, marcada pela santidade, assim como Cristo ressuscitou pela glória do Pai. Romanos 6:4 não convida os discípulos de Jesus a apenas contemplar esse mistério, mas a vivê-lo com ousadia, pois não se trata de um ritual vazio, mas de um renascimento interior que rompe correntes, cura feridas e nos lança em uma jornada de esperança.
A Ética do Reino: Caminho Vivo e Vibrante
Essa novidade de vida exige mais do que sentimentos ou convicções internas. Ela clama por atitudes concretas, por escolhas que refletem a transformação que ocorreu em nosso coração. A ética do Reino não é uma lista de regras frias, mas um caminho vivo e vibrante, que orienta cada passo e revela, em nosso cotidiano, os valores que honram a Deus e edificam o próximo.
Bonhoeffer (2009) afirma que “a graça barata é inimiga mortal da nossa Igreja”, referindo-se à fé sem transformação, ao cristianismo sem cruz. Para ele, o verdadeiro discipulado exige renúncia e obediência — viver em novidade de vida é seguir Cristo com responsabilidade ética.
Para ilustrar, pensemos em um jardineiro dedicado que planta sementes em solo fértil. Ele sabe que para que a flor cresça bela é necessário cuidar dela diariamente — regar, proteger, retirar as ervas daninhas. Assim é a ética cristã: o solo é a nossa fé, mas sem cuidado constante, nossas ações podem secar, e a nova vida pode murchar. A ética é o cuidado diário que mantém a caminhada firme e o jardim da alma florescente. Jesus nos alertou: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26:41, ACF). A vigilância ética é parte essencial da vida cristã.
Fundamentos Filosóficos e Bíblicos da Ética
Ao falar sobre ética, Cortella (2007) define-a como o conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três grandes perguntas da vida: Eu quero? Eu devo? Eu posso? Nem tudo que queremos é possível. Nem tudo que podemos é correto. Nem tudo que devemos é desejável. A paz interior surge quando aquilo que queremos é também o que podemos e o que devemos fazer. Outra definição poderosa afirma que ética é “obedecer ao que não é obrigatório, mas é bom, justo e coloca o coletivo acima do individual”. A ética transcende fronteiras: ou você é ético em qualquer lugar do mundo, ou não é ético em lugar nenhum. Como discípulos de Jesus, somos chamados a viver de forma digna, conforme os valores do Evangelho. Filipenses 1:27 nos exorta: “Portai-vos de modo digno do evangelho de Cristo.” Essa dignidade se expressa em atitudes como: Honestidade e lealdade — que constroem confiança; Bondade, verdade e solidariedade — que revelam o coração de Cristo; Justiça, imparcialidade e respeito — que refletem o caráter de Deus; Amor, paciência e humildade — que sustentam relacionamentos; Generosidade, empatia e simpatia — que edificam o próximo. Tiago 2:18 reforça: “Eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” Ou seja, nossas ações revelam nossa verdadeira posição em Cristo. Leonardo Boff complementa essa visão ao afirmar que “a espiritualidade cristã não se limita ao culto, mas se expressa na prática da justiça e da solidariedade.” Para ele, a ética do Reino é inseparável do compromisso com o outro — especialmente com os marginalizados e vulneráveis.
Ilustração: O Farol na Tempestade
Um pequeno farol numa costa agitada não deixa de cumprir seu papel porque a tempestade é forte; pelo contrário, é exatamente nesse momento que sua luz é mais necessária. Assim também devemos ser nós: firmes na ética do Reino, brilhando intensamente em meio às tempestades do mundo.
Conclusão
Concluímos com duas perguntas reflexivas: 1ª Que áreas da sua vida ainda precisam ser enterradas para que o velho eu seja de fato morto? 2ª Que atitudes práticas você pode tomar hoje para viver essa ética do Reino? Que nossas vidas sejam um testemunho vivo da ressurreição de Cristo — uma caminhada marcada por escolhas que honram a Deus e transformam o mundo ao nosso redor. Que cada discípulo de Jesus Cristo se levante como esse farol firme, revelando ao mundo a glória do Pai através de uma vida ética, íntegra e cheia de propósito.
Referências Bibliográficas:
BÍBLIA SAGRADA. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Sociedade Bíblica do Brasil, 2001.
BOFF, Leonardo. Espiritualidade: um caminho de transformação. Petrópolis: Vozes, 2008.
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo: Sinodal, 2009.
CORTELLA, Mário Sérgio. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre ética, liderança e gestão. Petrópolis: Vozes, 2007.
STOTT, John. A cruz de Cristo. São Paulo: Editora Vida, 2001.








